Gota D’água

Catarina Nogueira
1 min readFeb 26, 2024

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A calma no meu coração exige de mim a tempestade.

A têmpera do sentir.

Os raios de fora são a amostra do que há no todo.

A forja do que é vivo.

O agudo da gota de chuva amortece

O grave dos trovões machuca

Tinge os medos onde só o fim acessa.

O fim não cessa.

Cessa fogo do céu na terra.

A clareza vem antes do estrondo, sempre.

Pois nunca a luz é lenta,

Pois tudo se molda nela e ela a tudo se molda.

Mais que água que caí,

Mais que o tempo diante de nós já se vai.

Sempre também o som penetra.

Treme o fundo descabido

Treme de ócio e castigo

Não ter controle e ter que esperar

A chuva passar.

Se a chuva passar.

E aí o privilegio de olhar,

Sentir cada risco no céu violeta

Assistir à sinfonia imperiosa,

Impiedosa,

Corpulenta,

Que grita e geme magia,

Transpira poder e arde em coisa fria,

Marcando no tempo dois segundos de amanhecer.

O fundo da natureza é acima de nossas cabeças,

Desmanchando o chão do que está suspenso aqui,

Onde a mão pode tocar.

Onde eu enxergo.

Onde eu não me apoio mais.

É ver o que somos diante dos antigos.

O pó do grão de pó perdido

O que tudo fizemos e fazemos dentro de nós.

Se chover para sempre,

Morre o céu e eu fico inteira,

Em cada canto da natureza,

No cantar da noite crua.

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