Gota D’água
A calma no meu coração exige de mim a tempestade.
A têmpera do sentir.
Os raios de fora são a amostra do que há no todo.
A forja do que é vivo.
O agudo da gota de chuva amortece
O grave dos trovões machuca
Tinge os medos onde só o fim acessa.
O fim não cessa.
Cessa fogo do céu na terra.
A clareza vem antes do estrondo, sempre.
Pois nunca a luz é lenta,
Pois tudo se molda nela e ela a tudo se molda.
Mais que água que caí,
Mais que o tempo diante de nós já se vai.
Sempre também o som penetra.
Treme o fundo descabido
Treme de ócio e castigo
Não ter controle e ter que esperar
A chuva passar.
Se a chuva passar.
E aí o privilegio de olhar,
Sentir cada risco no céu violeta
Assistir à sinfonia imperiosa,
Impiedosa,
Corpulenta,
Que grita e geme magia,
Transpira poder e arde em coisa fria,
Marcando no tempo dois segundos de amanhecer.
O fundo da natureza é acima de nossas cabeças,
Desmanchando o chão do que está suspenso aqui,
Onde a mão pode tocar.
Onde eu enxergo.
Onde eu não me apoio mais.
É ver o que somos diante dos antigos.
O pó do grão de pó perdido
O que tudo fizemos e fazemos dentro de nós.
Se chover para sempre,
Morre o céu e eu fico inteira,
Em cada canto da natureza,
No cantar da noite crua.