Aqui
Aqui comigo eu devo ter centenas de versos.
Excertos de pequenos afetos,
Verdades feitas de universos,
Caminhos para onde levam os nossos tetos.
Aqui comigo eu tenho mais um mundo
Preso nas linhas e nos meus dedos
Que muito podem quando pouco fazem
Que muito servem para o que não me cabe.
Aqui comigo eu tenho enxames
Tenho zumbidos implicantes
Tenho objetos cortantes
Coleciono as pequenas sortes na estante.
Aqui comigo eu conservo o que não foi dito
O silêncio de um abrigo
Conservo o medo de oferecer
Confesso a face rubra ao perceber.
Aqui eu tenho muito
Mas nunca o bastante
Falta sempre aquele instante
Onde clareia e se expande.
Aqui eu tenho as pernas trêmulas
A leveza da consciência
Do que há por trás do que se anuncia.
E da ansiosa ciência de que haverá outro dia.