Altos

Catarina Nogueira
1 min readMar 26, 2022

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Foram muros, o que vi.

Muros completos, altos, concretos, cinzentos, corpulentos, torturados, decalcados.

Muros torpes, ferrosos, arenosos, porosos, cheios de buracos rasos, numerosos, pálidos.

Descascados muros fortes, frontais, cegos, sacais.

Muros que foram erguidos contra o prurido da escuridão, contra o grito que não se ouve na multidão, no som que nada mais sente.

Foram muitos, os que vi.

Muitos os urros brutos no sussurro, muitos contos tortos.

Muito, de muito menos do que o que nos comporta.

Muita distância importa, embota, sabota, desbota.

Abre a cortina, destranca a porta.

Foram só por frestas o que eu vi.

A luz acena, o corpo tem pena, a mente tem zelo

Um apelo

Derrube-os sem medo.

Faça contato, se parta ao meio.

Divida a sobra, detalhe o contexto.

Veja, enfim,

Que o muro revela mais do que protege,

Que o sentido é esse mesmo e não se mexe,

O que é real desaba sobre nós mesmo assim.

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